Liberdade e a cadeira de rodas

Debora Haupt

Fiquei tetraplégica há nove anos, é um bom tempo, da minha vida de 35, sobre rodas.
Já estou em um momento da vida em que a gente se acostuma tanto com as limitações de uma lesão que não lembra mais como era a sensação de caminhar, dançar, de sentir as sensações na pele, do prazer de fazer xixi quando se está “super apertada”, dar uma gargalhada alta (a minha ficou muda) e tantas outras coisas do dia a dia que todo mundo faz sem pensar e quando agente não tem mais sente muita falta.

Mas apesar de tudo isso, a frase “ficou presa a uma cadeira de rodas” ou “que linda, pena que está na cadeira de rodas” é totalmente equivocada. Não só pelo tom de “pena” envolvido no seu significado, mas principalmente pela realidade: a cadeira de rodas é sinônimo de liberdade!

Quando eu tive a minha primeira cadeira, super pesada, eu não conseguia rodá-la por 5 metros de distância, sim porque minha lesão é alta e dos meus braços só conto com o bíceps, nada mais! No inicio da lesão eu pensava equivocadamente que precisava ter uma cadeira que me fizesse “trabalhar” para adquirir força. Depois de ir ao Sarah várias vezes vi que não era por aí. Dentro da minha realidade, para viver bem precisava de algo que me desse agilidade, para atingir a maior independência possível na minha situação.

Debora Haupt Debora Haupt
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Troquei minha cadeira em X, pesada, por uma monobloco, levinha que só! Já foi muito, mas muito legal!! Quando estava no shopping podia pelo menos virar para olhar a vitrine, já que geralmente quem me levava me deixava olhando para o lado que não interessava... não por mal, mas porque nunca saberemos fazer as coisas como o outro faria!

Eu comprei uma cadeira motorizada, dentro de casa me dava uma liberdade que não tinha em lugar nenhum do mundo!!! Agilidade na velocidade, em chegar onde quisesse, subir aclives e descer sem precisar de ajuda! Liberdade, ah como ela faz falta que não se tem! Mas esta cadeira que eu tinha pesava mais do que eu mesma, 60 kilos de cadeira... ou seja, só em casa mesmo...

Mas a minha sessentona ficou velinha, experimentei outras possibilidades e então decidi comprar uma nova, financiei pelo Banco do Brasil, pelo BB Crédito Acessibilidade, que já contei aqui no blog. Queria uma cadeira que pudesse levar para lugares acessíveis, para ter então minha tão sonhada LIBERDADE! Ontem fui com ela pela primeira vez ao shopping, mais leve e fácil de carregar, até mais fácil de desmontar, puder deslizar pelos corredores, sozinha com minha filhota amada no colo, independente, leve e feliz! Minha cadeira de rodas me dá a liberdade que minha lesão me tirou, virar para onde quiser, levar minha filha no meu colo, chegar onde quisermos juntas e ao lado da minha família! Se não fosse ela, onde será que eu estaria?

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