Embora as rodas e cadeiras fossem já conhecidas nos tempos pré-histórico, possivelmente 4000 aC foi a maca o primeiro instrumento usado para aqueles que não podiam andar. Leve, feita com facilidade e facilmente transportada pelos escravos, servos, soldados ou membros da família, era o meio ideal para o suporte dos doentes e deficientes, superando os caminhos antigos, evitando os solavancos dos animais de carga e os choques das carruagens (Kamenetz, 1969).
A mais antiga representação conhecida de um veículo sobre rodas em ambientes internos pode ser uma cama de criança retratada em um vaso grego do século VI aC, enquanto uma escultura em pedra entalhada mil anos mais tarde poderá ser a mais antiga representação de uma cadeira de rodas. Ela vem da China, o único país da metade oriental da Ásia em que as cadeiras foram usadas antes dos tempos modernos, e é datada de cerca de 525 dC (Kamenetz, 1969).
Um simples veículo manteve a popularidade na Idade Média, e até hoje por sua eficiência no transporte: o carrinho de mão. Presume-se ter sido inventado no século III dC, no entanto este veículo chegou à Europa apenas por volta do século XII pela rota das Cruzadas. Deve ter sido um veículo muito útil para cargas de qualquer natureza, bem como para os doentes. Lucas Cranach, em sua famosa pintura de 1546 (Museum Berlin-Dahlem), retratou os idosos e deficientes físicos a caminho do rejuvenescimento, aos ombros dos homens, em macas, em carruagens puxadas a cavalo ou em carrinhos de mão para a mágica Fonte da Junventude(Kamenetz, 1969).
Para uso dentro de residências, pequenas rodas ou rolos foram colocados em várias peças de mobiliário, estas cadeiras deram conforto aos doentes e idosos, sem confiná-las a cama. Muitos outros acessórios e recursos especiais foram adicionados no século XVI.
Frequentemente, essa "cadeira de comodidade" tinha as costas reclináveis, apoio de cabeça, apoio de braço, e um pequeno rolo em cada um dos “pés” dianteiros. As cadeiras eram feitas de formas individuais, por vezes, para utilização do próprio dono (Wilson, 1992).
Um exemplo mais notável de tais cadeira de rodas é a de Filipe II, rei da Espanha (1527- 598). Tal como relatado nos registos das memórias de Jehan Lhermite, este construiu em 1595, uma detalhada descrição da cadeira do rei com cinco desenhos a caneta e legendas, parte em espanhol, parte em francês. Este modelo apresenta muitas características de cadeira de rodas construída três séculos mais tarde. Movia-se sobre quatro pequenas rodas, tinha as costas reclináveis e um descanso de pé elevado através de um estribo, barras metálicas curvas 7com entalhes fixados nas costas e várias posições de pernas. A cadeira era coberta com um colchão de crina de cavalo e, apesar de ter sido de madeira, couro e ferro comum, valeu dez vezes seu peso em ouro e prata para o conforto de Sua Majestade, de acordo com seu criado, o construtor da cadeira (Kamenetz, 1969, Asensio,2007).
Junto com o desejo de conforto cresceu o interesse em contornos corporais, as cadeiras receberam braços adaptados às formas do corpo humano. Mesmo com várias modificações, a cadeira ainda precisava de uma pessoa para empurrar. Para projectos de cadeira de rodas manuais, eram necessários desenhos com detalhadas especificações técnicas. Nuremberg, Alemanha, deve ter sido um ambiente particularmente favorável para a construção de cadeiras de rodas, em 1588 Balthasar Hacker fez uma cadeira de rodas que poderia ser convertida em uma cama. Johann Hautsch construiu várias cadeiras de rodas manuais na década de 1640, e em Altdorf, na Suíça, Stephan Farfler, um relojoeiro paraplégico, fez um veículo de para si mesmo em 1655, a escolha do mecanismo para girar as rodas não foi certamente por acaso, fiel à sua profissão, ele usou uma roda dentada ligada por duas manivelas com o intuito de fazer mover a cadeira que construiu (Kamenetz, 1969; Asensio, 2007).
Um inventor tentou aplicar a força às rodas grandes traseiras, em um triciclo
engenhosamente concebido, datado de 1655, na Suíça. Cada uma das rodas grandes tinha em seu interior um aro que estava ligado a uma roda dentada que faziam as engrenagens das jantes rodar, estas rodas eram igualmente giradas por uma manivela (Sawatzky, 2006).
Apesar de todas estas diferentes abordagens, as pessoas continuavam a ser carregadas por escravos, pois ainda era o mais simples e confortável, principalmente para viagens curtas ao ar livre, o grande inconveniente era a necessidade de duas pessoas para a locomoção. Um importante passo foi uma invenção que substituía um dos homens realizada por Dupin, em 1669, quando ele substituiu um dos dois homens de pé por um par de rodas, mudando a cadeirinha de escravos para um “carrinho de mão”. Mais tarde, por volta de 1800, Assalini aplicava a mesma transformação a maca, e acaba por usar extensivamente no campo de batalha(Sawatzky, 2006).
Thomas Rowlandson, em 1792, teve cinco dos doze desenhos da série "conforto do
banho", datado de 1798, onde mostrou um tipo de cadeira de rodas que era empurrado por um homem, mas tinha rodas grandes o suficiente para autopropulsão. As rodas grandes eram aparentemente de madeira, como o resto da cadeira. Esta cadeira parece ser o ancestral das cadeiras de rodas do século XX (Kamenetz, 1969; Sawatzky, 2006).
No entanto, a cadeira de rodas ainda aguardava a sua última grande melhoria, que se assemelhasse às cadeiras de rodas dos hospitais de hoje, esta melhoria estaria nas suas grandes rodas de madeira. No último quarto do século XIX, quando as rodas das bicicletas de madeira foram substituídas pelos raios de metais, as cadeiras de rodas seguiram a mesma tendência. O mesmo ocorreu quando as rodas da bicicleta foram cobertas com pneus de borracha, desta forma, os fabricantes de cadeiras de rodas começaram a adaptar o seu produtos a esta mesma tendência, adquirindo as rodas das cadeiras dos mesmos fabricantes de pneus para bicicletas(Sawatzky, 2006; Kamenetz, 1969).
Demorou algumas décadas, para o desenvolvimento do automóvel, e para a melhoria das estradas, para assim alcançar uma outra etapa importante na evolução da cadeira de rodas, a produção de uma cadeira de rodas leve e dobrável (Sawatzky, 2006; Asensio, 2007).
Os Estados Unidos têm sido bem-sucedidos na produção de cadeiras de rodas desde 1930, e acabaram por servir como modelos a muitos outros países. Os avanços na medicina salvaram muitas pessoas que em tempos antigos não teriam sobrevivido. Com o aumento no número de pessoas que necessita de uma cadeira de rodas, esse objecto se tornou familiar a todos, não só para seus utilizadores mas para todos, e desta forma acaba por inserir um maior contacto social na vida destes deficientes, devido a facilidade de mobilidade (Kamenetz, 1969).
Vídeo em homenagem a nossa amiga:
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